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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Feliz Natal! Feliz Solestício de Inverno! Feliz Chanukah!

Esta é uma quadra festiva em que, por principio, tudo está bem, todos estão bem!

Mas a verdade é que neste tempo devemos dizer a verdade... Se bem que a verdade deve ser sempre a nossa forma de vida!

Nem sempre a paz e a harmonia encontram os nossos corações nesta altura do ano. Familiares que mal se falam, amigos que nunca se vêem, caminhos que nunca se cruzam... tudo isto, hipocritamente, é atirado para trás das costas fingindo que nada se passa... tréguas falsas... cinismo desenfreado...

A pergunta que coloco é: porque é que as pessoas se comportam deste modo numa época que, de facto, se queria de efectiva e afectiva Paz, Harmonia e Tranquilidade?

Aquilo que eu acho... vivemos cada vez mais num mundo que se rege pelo poder e pelo dinheiro e em que os valores de honestidade, lealdade e tolerância que recebemos e aprendemos de nossos pais se perdem a cada dia, sem que nós, de alguma forma, tentemos dar a volta a este rumo.

Esta é a minha razão para detestar este Natal que a sociedade de consumo nos impõe e que nada tem a ver com aquilo que é o verdadeiro Natal!

Aquilo que eu desejo, do fundo do meu coração, é que um dia possamos dizer verdadeiramente aquele «Feliz Natal» que marcará a diferença, aquele «Feliz Natal» que nos una numa corrente de solidariedade no ano inteiro e que faça, de facto, diferença; que una os amigos e as famílias numa cadeia de união forte e firme por forma a que se ultrapassem, verdadeiramente, os problemas e diferenças!

Alguma ingenuidade no meu desejo? Talvez! Mas ainda assim...

Permitam-me, por fim, que deseje a todos os leitores desta tosca reflexão, votos de um

Feliz Natal!  Feliz Solestício de Inverno!   Feliz Chanukah!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Caminho Iniciático

http://www.regaleira.pt/    -   Foto tirada em 31-10-2010


O Caminho iniciático…



“Nada nos pode dar um profundo sentido do significado da nossa vida terrena, estimulando-nos a vivê-la como um breve estádio experimental, quanto a atitude interior de nos considerarmos como peregrinos.”

Karol Wojtyla
Papa João Paulo II


“O caminho para o mistério não se faz pelo conhecimento ou pela pureza da vida, mas sim pela iniciação. Não é fácil encontrá-lo, bem como encontrar o ponto de entrada, a energia para lá se manter, ou a atitude para permanecer na vida. No entanto, uma vez que se dê o passo inicial com coragem e abandono, o resto, embora seja de certo modo árduo, acaba por se tornar mais fácil.”

Sir Thomas Moore


“Sete é o número da vida no seu aspecto mais misterioso, mais secreto.
Antes de ter acesso ao caminho é preciso transpor sete obstáculos: a infidelidade, a vontade de destruir, a avareza, a idolatria, o egocentrismo, a cobardia e a vaidade… Os sete obstáculos nunca são definitivamente vencidos. Ressurgirão em cada nova etapa do nosso caminho.”

Christian Jacq
Viagem iniciática


Neste caminho para a Quinta da Regaleira, paremos, ainda que por breves instantes, numa ideia que gostava de partilhar convosco… O local onde se situa a Quinta da Regaleira… Sintra! Pois é… Sintra!

A serra de Sintra, que como todos sabemos é considerada Património da Humanidade pela UNESCO (o que penso ser um motivo de orgulho para todos!), é em si própria um local de mistério, de magia, de um certo misticismo…

Por este motivo, encontramos pela  serra fora  vestígios daquilo que foram cerimónias ocultas, capítulos nocturnos, encontros secretos de umas sociedades ditas secretas… Além do mais, é um lugar sossegado, longe do barulho, mas perto de tudo. É um sítio maravilhoso!!!

Reza a história que no ano da conquista de Lisboa aos infiéis Muçulmanos – todos sabemos a data, 1147 – o nosso ‘pai’ fundador D. Afonso Henriques, o primeiro Rei de Portugal, conquistou, também, a Serra de Sintra. A história diz ainda que, dez anos mais tarde, o rei de Portugal entrega-a à guarda da Ordem do Templo (os cavaleiros Templários, de quem já falámos atrás).

Por curiosidade, os Cavaleiros do Templo, tinham por hábito ficar com lugares de certo modo estranhos… Ajudavam os monarcas nas suas conquistas e como paga desse esforço pediam que lhes fosse cedido determinado lugar… Lugares de floresta serrada ou de, pelo contrário, lugares tão inóspitos carregados de penhascos… Olhemos por instantes para a ilha de Malta: Aquela ilha nada tinha a não ser pedras e rochas… Voltemos a Sintra… Lugar cheio de plantas, árvores de vários portes e espécies!...
De facto, Sintra é um lugar mágico! E qual motivo melhor para alguém com as ideias de Carvalho Monteiro (1848-1920) e a prática do cenógrafo italiano Luigi Manini (1848-1936) criarem a quinta que visitamos?

A imaginação destes dois talentos concebeu um espaço que é, para mim, uma ode à arte, com particular atenção para o gótico presente em todos as construções da quinta, mas também um hino à história nacional e às tradições místicas e esotéricas da própria serra..

Assim, no ano de 1892 António Augusto de Carvalho Monteiro compra à Baronesa da Regaleira a quinta.

Juntamente com o cenógrafo Luigi Manini (cenógrafo do São Carlos e Arquitecto do Buçaco) criam aquilo que hoje conhecemos como a quinta da Regaleira. Apesar do cenário mágico e da diversidade de caminhos que a regaleira nos oferece, tudo parece conduzir a um aglomerado de pedras, aparentando ser um menir… De súbito, uma curiosa porta de pedra move-se, impulsionada por um mecanismo oculto, e nos dá o ‘passe’ para a entrada noutro mundo!...

Isto é sem dúvida um rito iniciático. O morrer para esta vida terrena para renascer numa outra vida.

Esta imagem corresponde ao poço iniciático, uma espécie de torre invertida, que mergulha nas profundezas da terra… A continuação do rito. A terra representa o útero materno de onde provém a vida, mas também significa o lugar para onde iremos após sermos sepultados… «Tu és pó e ao pó voltarás!».

Comecemos, então, a descer o poço e entrar nas profundezas da terra.

De quinze em quinze degraus se descem nove patamares desta imensa galeria em espiral, sustentada por inúmeras colunas, que vão marcando o ritmo e o aprumo das escadarias. Os nove patamares circulares do poço, por onde se desce à terra ou se sobe na direcção do céu, conforme o precurso iniciático escolhido, lembram os nove círculos do inferno, as nove secções do purgatório e os nove céus do paraíso, que Dante nos deixou bem representado na Divina Comédia.

No fundo do poço, gravada em embutidos de mármore sobressai uma Cruz Templária, aliada a uma estrela de oito pontas, afinal o brazão de Carvalho Monteiro. As galerias conduzem-nos, em autênticos labirintos, pelo mundo subterrâneo. De construção, na sua grande maioria, artificial estas galerias aproveitam as características geológicas da mancha granítica da serra de Sintra. No interior, a abóboda divide-se entre os maciços da rocha mãe, de um granito granular médio, geralmente de cor rosada ou parda, e zonas preenchidas com pedra importada da região de penhiche.

Ao chegarmos ao exterior, esperam-nos a luz e os cenários minuciosamente construídos. São animais fantásticos, artifícios de água em cascata, passagens de pedra que parecem flutuar à superfície dos lagos, ou nuvens silenciosas que dissimulam as entradas para este outro mundo… (como diria Gil Vicente, «chegado ao grande rio, pediu ao barqueiro que o levasse para o paraíso…»).

Como já vimos atrás, a Regaleira é um logar mágico. Podemos ver que a simbologia alquímica se encontra espalhada por todos os locais da quinta. Na capela, na pintura da coroação de Maria por Cristo, na qual a Virgem ostenta uma faixa dourada  (para além das três cores alquímicas – o azul ou o negro, o branco, o vermelho ou rubro) , que simboliza o ouro alquímico.

Também num alto relevo, encontra-se, nas traseiras da capela, um castelo com duas torres separado por uma zona de labaredas e uma goela infernal; Trata-se de uma imagem da tri-unidade do mundo e do Homem: o mundo superior ou espiritual, o mundo intermédio da alma e o mundo interior material (“ad infero” ou inferno). A torre rubra é o forno alquímico (Atanor).

Nas cocheiras, voltam a estar presentes sinais de Alquimia em duas esculturas que formam símbolos clássicos da arte de Hermes: a serpente que morde a cauda, simboliza a unidade, origem e fim de obra, a luta entre as duas naturezas, aqui representada por dois dragões, cada um mordendo a cauda do outro.

A gruta ogival, onde Leda, segurando uma pomba na mão, aparece numa escultura à beira de um pequeno lago enquanto Zeus, disfarçado de cisne, fecunda-a bicando-a na perna. Trata-se de uma alegoria pagã ao mito, ou mistério, da imaculada Conceição, que decorre num lugar húmido e escuro.

Tenho falado de Alquimia. Como todos sabem, alquimia tem por objectivo a transformação real ou simbólica dos vários metais em ouro para, é o objectivo, levar à salvação da alma. Estas operações de transformação ocorrem no que atrás chamei de Atanor, ou seja um forno alquímico de combustão lenta, com um cadinho (recipiente) e um balão nos quais se pretende espiritualizar a matéria e materializar o espírito. Este propósito essencial da alquimia operativa, executada em laboratório, é a obtenção da Pedra Filosofal, simbiose entre matéria e espírito, da qual poderia resultar a realização de um dos desejos mais antigos da Humanidade: o elixir da longa vida. Neste sentido, à quem considere a procura alquímica como uma metáfora da condição humana.

A alquimia assumiu, depois do séc. XVIII um carácter manifestamente religioso, dedicando-se, sobretudo, ao estudo das relações espirituais e energéticas entre o Homem (microcosmo) e o Universo (macrocosmo).

Como estamos a ver, a Quinta da Regaleira permite-nos abordar uma infinidade de assuntos e conceitos, pelo que vos deixo (e esse o meu objectivo!...) algumas pistas e alguns motivos de leitura… se quiserem, claro!...

Continuemos.

A concepção religiosa que nos mostra a Regaleira assenta no Cristianismo. Contudo, dizem os estudiosos destes assuntos, num Cristianismo escatológico que tem a ver com o fim dos tempos… É também um Cristianismo Gnóstico apoiado em discursos míticos e em conhecimentos sagrados que prometem a salvação da alma aos fiéis. (Relacionado com os Evangelhos Gnósticos. Aqueles que, segundo os entendidos e os estudiosos nestas matérias, foram escritos pela mão de Maria de Magdala, outros pelo próprio Cristo e outros ainda por alguns dos discípulos, nomeadamente São João)… É, enfim, um Cristianismo imbuído de ideais neo-templários, associados ao culto do Espírito Santo, que podemos encontrar na tradição mítica portuguesa.

Mais uma vez, temos referência aos Cavaleiros Templários…

Desaparecidos os Templários, não desapareceu o templarismo, cujo o espírito, que podemos resumir na defesa dos lugares sagrados e na luta contra o mal, renasceu em várias correntes e várias organizações iniciáticas como sendo a afirmação simbólica da sobrevivência da Ordem do Templo.

A Cruz Templária no fundo do poço iniciático, a Cruz da Ordem de Cristo no chão da Capela, bem como todas as outras cruzes dispostas na Capela, testemunham a influência do templarismo  no ideário de Carvalho Monteiro

Há ainda na Regaleira referências rosa crucianas, de tendência Cristã, utilizando os símbolos conjuntos da rosa e da cruz. O movimento Rosa-Cruz propunha reformas sociais e religiosas, exaltava a humildade, a justiça, a verdade, a castidade, apelando à cura de todas as enfermidades do corpo e da alma. Tornou-se grau maçónico de várias Ordens e, ainda hoje, existem escolas esotéricas e sociedades secretas que pretendem assumir-se como reaparições do mito Rosa-Cruz.

A Quinta da Regaleira não se estuda… A Quinta da Regaleira, sente-se!!!

Espero, agora que acabei, ter deixado informação suficiente para vos abrir o apetite para outros assuntos…

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Silêncio!

 Silêncio
Há já uma hora que conduzia sem parar; Sem destino e sem hora de chegada, Miguel estava decidido a encontrar um lugar que lhe chamasse à atenção do coração. Precisava de pensar, de por as ideias em ordem. Lembrava-se muitas vezes de uma frase que tinha lido em tempos, nem se lembrava onde mas, que não tinha mais esquecido… «Ó meu filho, a sabedoria está no silêncio»[i]… talvez a tenha lido num daqueles livros sobre “coisas“ que a sua mulher tem lá em casa. Mas na verdade, nunca aquelas palavras lhe faziam tanto sentido como naquele instante.
Na verdade, só conseguia falar consigo em silêncio.
Miguel não era uma pessoa muito dada a religiões e religiosidades populistas. Fora educado numa família cristã e católica praticante, fruto do seu Portugal e da sua cultura; cumprira os seus deveres conforme lhe era indicado pelos seus pais, no entanto, sentia a religião de uma maneira muito própria. Para ele Deus, Alá, Jeová, Buda, Krishna eram todos a mesma pessoa, mas como todas as pessoas são criadas em culturas diferentes, têm de se encontrar nomes diferentes para o seu Criador. Nas flores, nos rios, nas árvores, nos pássaros, nos outros, aí encontrava o seu Deus… essa era a sua religião, a Natureza. E por isso era no meio da natureza que se sentia melhor e onde conseguia pensar em tudo de uma forma mais clarividente.
Quando deu por si estava a passar em Sintra junto à Quinta da Regaleira, um lugar de que muito gostava porque lhe trazia boas recordações de grandes momentos que passara com a sua Mulher. Resolveu então parar e entrar.
Entrou e sem demora dirigiu-se para a esplanada das estátuas. Aliás, era a partir dali que se iniciava o caminho da visita à Quinta. Todas aquelas divindades greco-romanas ali representadas. Todo o simbolismo latente em cada canto daquele lugar mágico e extraordinário. Ainda se lembrava da história da quinta que lhe foi contada por um senhor durante uma visita que fez com um grupo de amigos e que mais tarde veio a perceber que era o Professor José Manuel Anes; Como é que aqueles dois homens conseguiram fazer aquele cenário magnífico? A própria Serra de Sintra é um lugar mágico, propício a capítulos nocturnos de qualquer tipo de religiosidade ou cerimónia pagã.  Na verdade, Carvalho Monteiro (1848-1920)[ii] e a extraordinária criatividade do cenógrafo italiano Luigi Manini (1848-1936)[iii] criaram este lugar, a quinta da Regaleira,  que é detentora de uma beleza extraordinária.
 Sentou-se num dos bancos de pedra e em seguida deitou-se. Podia observar os raios de sol que atravessavam a muralha de folhas e ramos daquelas árvores frondosas que tinha por cima de si; fechou os olhos e relaxou. Nada mais ouvia a não ser o cantar dos pássaros e a leve brisa a abraçar a folhagem das árvores. Naquele instante sentiu-se leve e livre de todos os pesos que trazia consigo; no trabalho não se sentia reconhecido pelo esforço e desempenho que tinha, o grupo dos seus amigos de longa data atravessava um período de ‘dúvida’, de ‘crise existencial’, todos pareciam doutores e se comportavam como tal em todas as ocasiões, o que o deixava triste sem saber o que fazer para ultrapassar esta questão… não pareciam os mesmos! A alegria e o entusiasmo que os caracterizava desaparecera. Ele próprio não se sentia com forças para dar a volta…
«Miguel, que se passa contigo querido?», pergunta que se lembra da sua mulher lhe fazer, cuja resposta, pronta, era sempre «Nada, querida!» e ali ficava a ‘redizer’ para si mesmo vezes sem conta a resposta que acabava por dar à sua Margarida, como que para se convencer que era realmente assim… «Nada, querida!».
De facto, entre eles, para além do que é normal entre casais, nada de mais se passava! Amava-a com todas as suas forças e todos os dias pedia que esse amor crescesse… Para ele, ela era a mulher da sua vida! Tivera outras experiências, mas nenhuma correu bem! Talvez não se sentisse tão maduro!... Talvez elas não fossem tão adultas e, ao mesmo tempo, crianças como ele desejava!
A Margarida era bem diferente; Uma mulher sólida, independente, senhora de si, mas, ao mesmo tempo, uma autêntica criança! Verdade! Ela ficava derretida quando via um bebé, ela parecia um bebé quando se cruzava com animais (aliás ela adora animais!),  para ela uma flor do campo tinha uma beleza extraordinária… quando viajavam de carro pelo campo, lá ia ela de nariz de fora – qual cachorrinho! – a cheirar o ar e a terra! Era uma delícia partilhar cada momento com ela…
«Miguelinho, cheira a vacas!... Oh, eu adoro o cheiro das vacas!» dizia ela numa ocasião. Ou então, «Querido, olha ali tantos coelhinhos! Com o rabinho branco a abanar… ah ah ah ah ah ah ah ah ah!... Tão lindinhos!».
Eram todas estas, e outras mais, experiências que faziam com que ele a amasse cada dia mais que no anterior. A simplicidade dela, a inocência dos seus pensamentos e acções para com tudo e todos, a ingenuidade que mostrava… a luz de felicidade que o seu rosto emana quando sorri, até mesmo o seu ar zangado lhe dava um toque de uma beleza sem par! Foi por esta mulher que ele se apaixonou e  mudou toda a sua vida… Pois é a boémia, tinha de parar um dia!
De facto, como diziam os amigos dele, «estás mais atinado, pá!». E sim, sentia-se um pouco mais calmo e ponderado!
E ali estava ele deitado naquele banco de pedra, em silêncio, perdido num turbilhão de pensamentos. Tinha acordado num dos tais dias em que disse para a Margarida «Nada, querida!». Mas sentiu necessidade de estar sozinho e por isso, após terem almoçado e Margarida ter adormecido, tapou-a e deixou-lhe um bilhete colado no televisor que dizia: “Volto já meu amor! Fui falar comigo!... Não te preocupes! Amo-te hoje mais do que ontem!” e saiu.
«O senhor desculpe, mas a quinta fecha dentro de meia hora!», dizia uma voz, que lhe parecia longe.
De um salto, pôs-se de pé; Tinha adormecido sem se dar conta, e já lá estava há 2 horas deitado no banco.
«Sim, desculpe… perdi-me nas horas. Mas acha que ainda posso dar um passeio pequenino?», perguntou.
«Se não se voltar a perder nas horas, tem 20 minutos, que tal?», disse-lhe o segurança com um sorriso de malandro.
E assim foi. Foi subindo até à zona que mais gostava da quinta que era o poço. Não podia fazer o percurso de descida por não ter tempo, mas foi inspirando toda aquela pureza e magia do ar e sentia a energia daquele lugar que lhe envolvia o corpo. Parecia que tinha colocado baterias novas e sentia-se pronto para voltar para junto da sua amada.
Meteu-se no carro e arrancou. Passou pela ‘Piriquita’ para comprar uns travesseiros e umas queijadinhas e disparou rumo ao seu castelo onde o esperava a sua querida! Na direcção de casa ainda teve tempo para colher umas margaridas selvagens que a sua mulher adorava.
Estacionou o carro e subiu ao primeiro andar. O coração batia-lhe a uma velocidade maluca; parecia que aquele era o seu primeiro encontro… um friozinho na barriga, as pernas a tremer, rodou a chave e entrou em casa.
«Querido, onde andou?... Estava a ficar preocupada! Passa-se alguma coisa?»
«Nada, querida! Apenas quis estar um pouco sozinho junto às minhas amigas árvores. Toma, trouxe-te um presente!... E estas flores… Vou fazer um chá… Preto ou verde?...»
Margarida olhou para as flores e disse:
«São lindas!... Vou pô-las em água.»


[i] Hermes para o seu filho Tat em “Sermão secreto da montanha”
[ii] António de Carvalho Monteiro comprou a quinta à Baronesa da Regaleira em 1892.
[iii] Cenógrafo do Teatro São Carlos e Arquitecto do Buçaco.